terça-feira, 14 de junho de 2011

Quem é SANTO

O termo ‘SANTO’ é muito freqüentemente utilizado na TORÁ dos judeus para caracterizar que algo, ou alguém, é separado exclusivamente para Deus.


A palavra ‘santo’ aparece mais de 250 vezes no Antigo Testamento. Ali lemos sobre o ‘lugar santo’, o ‘santo sábado’ ou ‘shabbat’, ‘perfume santo’, ‘azeite santo da unção’, ‘santo santuário’, ‘fruto santo’, ‘dízimo santo’, ‘povo santo’ etc.

Já a palavra santificar aparece por mais de 50 vezes no mesmo Antigo Testamento.

No Novo Testamento, porção bem menor das Escrituras Sagradas, ‘santo’ aparece por cerca de 210 vezes e ‘santificar’, também, por umas 50 vezes.

O termo original dos mais antigos textos da Bíblia foi trazido para qualificar a condição daquele ou daquilo que era consagrado a Deus. O termo, muito comum no livro do sacerdócio, Levítico, traz um chamado específico de Deus ao povo hebreu: ‘portanto, santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus. E, ainda, ‘e ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e vos separei dos povos, para serdes meus’. Textos de Levíticos 20.7 e 26 e que trazem uma mostra do tipo de relação que Deus gostaria que fosse mantida entre o homem e Ele e entre o homem e o ambiente natural.

No texto de Levítico 20.26 lemos que Deus separou aqueles que eram seus. Este é o cerne do vocábulo ‘santo’ e indica o caráter daquele que é separado. Separado de que ou de quem? Separado do mundo relativamente ao sistema de pecado que governa e influencia a vida do homem natural sobre a face da terra. Deus nos tem chamado a sermos ‘homem espiritual’ e a vivermos sob o governo e influência do Reino de Deus.

A palavra igreja vem do grego ekklesia é composta de dois radicais gregos: ek que significa para fora e klesia significa chamados. Igreja é uma palavra escolhida pelos autores da Septuaginta [a tradução grega da Bíblia Hebraica] para traduzir o termo hebraico q(e)hal Yahveh, usado entre os judeus para designar a assembléia geral do ‘povo do deserto’, reunida ao apelo de Moisés.

Assim, e de forma bem simplificada, porém sem deturpação do verdadeiro sentido do termo, santo é o caráter de todo aquele que é parte da q(e)hal Yahveh ou da ekklesia.

No Novo Testamento, a palavra ‘santo’, do grego agion, aparece para qualificar: a pessoa de Jesus [Agios Tou Theo = Santo de Deus]; o Espírito Santo [Pneuma Agion]; os santos anjos [agiôn aggelôn]; o Pai santo [pater agie]; os santos profetas [agiôn prophêtôn]; os santos que habitavam em Lida [tous agious tous katoikountas Ludda]; santo lugar [agion topon]; santos da igreja que estava em Jerusalém [Nuni de poreuomai eis Ierousalêm diakonôn tois agiois]; ósculo santo [philêmati ágio]; todos os santos em toda a Acai [agiois pasin tois ousin em olé tê Akhaia].

Então, não há uma palavra para dizer que o Espírito era Santo, outra para dizer que o beijo que se dava num outro irmão era santo, ou ainda para representar que uma coisa, ou determinado lugar, era santo e, por fim, para afirmar que alguém era santo diferentemente de outra pessoa. As coisas, e pessoas, relativas à vida da igreja devem ser santas, ou seja, santificadas, separadas para o Senhor, tiradas para fora do ‘sistema mundo’, excluída do que era ‘profano’, e consagrada ao serviço do Senhor.

No cristianismo histórico brasileiro, o termo se distingue do seu verdadeiro significado bíblico. Num blog da instituição Canção Nova, lemos que ‘tanto a beatificação como a canonização pressupõem, contudo, a declaração prévia da heroicidade das virtudes praticadas pelo beato ou santo’.

E, ainda, ‘o que se entende concretamente por ‘virtudes heróicas’ ou ‘de grau heróico’? O dicionário não nos ajuda a esclarecer idéias. Ele, na verdade, diz-nos que os heróis são pessoas diferentes do comum dos mortais, ilustres e famosas pelos seus feitos clamorosos ou por terem realizado ações incríveis: no fundo, um modelo que se encontra no pólo oposto da vida ordinária. Compreende-se perfeitamente que, com esse conceito de herói, seja bastante difusa a idéia segundo a qual as ‘virtudes heróicas’ são as praticadas mediante manifestações inusuais, dando assim a entender que a normalidade por sua vez se identifica com a mediocridade’.

Então, o cristianismo histórico conseguiu desfocar a importância da vida de santidade, da qualidade do ‘santo’ como caráter de todos os cristãos, para criar uma classe de pessoas dentro da ekklesia que se tornem distintas das demais pessoas. Assim, na ekklesia passamos a ter os crentes comuns, os beatos e os santos.

Parênteses: Se, por exemplo, o senhor Karol Wojtyla, Ioannes Paulus PP.II, já era considerado ‘Santo Padre’ [o Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento de unidade quer dos Bispos quer da multidão de fiéis. Lumen Gentium, 23, conforme site http://www.vatican.va/], por que só foi beatificado em 1 de maio de 2011 e ainda não foi canonizado?

Teríamos então que proceder algumas alterações nos textos das Sagradas Escrituras para que se adéqüe o uso do termo. Assim, Tessalonicenses I Ts 5.27, apresentaria o seguinte texto: ‘pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida apenas aos irmãos que já foram canonizados. E, por favor, não a leiam a todos os demais, pois ainda não são santos’. Isto sem contar com os demais textos que, à luz da interpretação esdrúxula que a parte romana do cristianismo trouxe, devem ser adaptados, para que não entendamos que todos os irmãos a quem ele escreveu, no seu tempo [e ao longo da história], não sejam considerados santos, como ele os considerava.

Aproveitando a interpretação do cristianismo histórico brasileiro, quando Deus falou a todos os hebreus que devessem ser ‘santos’ como Ele, o Senhor é ‘santo’, está afirmando que todos devam ter ‘virtudes heróicas’, que todos os da igreja tenham ‘virtudes heróicas’. Então não podemos discriminar, não é nosso papel o de separar o trigo do joio, temos que ser santos.

Apenas para fechar: em todos os textos, não encontramos Deus exigir que alguém tivesse virtudes heróicas praticadas mediante manifestações inusuais, ou que alguém devesse fazer milhares, para então se tornarem santos. Ele apenas disse que todos fossem santos como Ele, o Senhor é santo. Em Lucas 16.17-18 lemos que ‘estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome [nome de Jesus], expelirão demônios, falarão novas línguas, pegarão em serpentes, não sofrerão males caso bebam algo envenenado, curarão enfermos pela imposição de suas mãos e eles ficarão curados’. E, em João 14.12 lemos que ‘em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim [em Jesus] fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai’. Ou seja, milagre deve ser a marca da vida do crente sobre a face da terra e isto deve ser resultado de uma vida de santidade. Ou seja, não somos santos porque fazemos milagres, fazemos milagres porque somos santos.

Nisso pensai!

Nenhum comentário:

Postar um comentário